Agrupamento de Escolas Visconde de Juromenha

Moby Dick

(Ilustração) Homem com perna de pau e arpão num barco a afundar com outras três pessoas em mar agitado e de frente para grande cauda de baleia fora de água
Domínio Público I. W. Taber, 1902

O capitão Ahab perdeu uma perna na pesca da baleia e jura não descansar enquanto não matar a temível baleia branca. Forma uma tripulação que leva numa viagem que os arrasta atrás de uma inimiga e até ao negrume da obsessão e da loucura.

É deste livro de Herman Melville recomendado pelo Plano Nacional de Leitura que se retira um excerto para os alunos de 8.º ano participarem no Concurso de Leitura 2020.

As leituras vencedoras (8.º ano):

  • 8.º 4, Ana:
  • 8.º 5, Helena:

Texto a ler

O meu nome é Ismael. Alguns anos, não importa quantos, encontrando-me com escassos recursos financeiros, e sem que algo me retivesse em terra firme, pensei fazer uma viagem por mar.

Este é o sistema que eu adoto para afugentar a melancolia e regular a circulação sanguínea. Com efeito, sempre que noto que o meu semblante está carregado e o meu estado de espírito se assemelha a um dia chuvoso de novembro, sempre que o meu mau humor me invade e só um firme princípio moral me detém de descer à rua para brigar com o próximo, sinto a necessidade imperiosa de me fazer ao mar, sem qualquer hesitação.

Mas entendamo-nos: quando eu digo que tenho de me fazer ao mar, não pensem que embarco como passageiro, porque, para isso, é necessário dispor de uma carteira devidamente recheada. Além disso, os passageiros normalmente enjoam, passado pouco tempo enervam-se, não dormem de noite e, no fundo, não se divertem. Também não embarco como almirante, capitão ou cozinheiro.

Deixo a glória e a distinção desses cargos a quem os ambiciona porque eu detesto qualquer género de incumbências por mais respeitáveis que elas sejam.

Quando embarco é pois como simples marinheiro. É certo que todos me comandam e me fazem saltar de um lado para o outro como um gafanhoto num prado no mês de maio. Inicialmente essa situação não é muito divertida e fere a personalidade de quem descende duma boa família e disfrutava, antes de embarcar, duma situação privilegiada como professor numa escola provincial, onde até os alunos mais velhos me olhavam como a um ser superior.

É dura, posso garantir-vos, a transição de professor para marinheiro e requer, para a suportar, uma notável capacidade de resignação e muita força de ânimo, mas com o tempo, tudo passa, disso podem estar certos: é a experiência que vos fala. Que importa se um velho e mesquinho capitão me manda limpar o convés? Que valor pode ter esta indignidade pesada? Quem se pode gabar de não ser escravo neste mundo?

Embarco, ainda, como simples marinheiro, porque gosto do salutar exercício físico e aprecio o ar puro que se respira quando estamos à proa.

Mas o motivo que inspirou na minha mente a ideia de partir à caça de baleias — eu, que tão bem conhecia já o ambiente como marinheiro mercante — só pode ter sido a invisível divindade, o «Destino» que sempre me conduz e vigia. Muito provavelmente o motivo principal foi a ideia de apreciar uma grande baleia em carne e osso. Aquele monstro misterioso e assombroso excitava simultaneamente a minha curiosidade. Além disso, os mares longínquos onde aquele monstro se ondeia com a sua enorme massa afigurando uma ilha, os indescritíveis perigos derivantes da sua caça, juntamente com as maravilhas das terras desconhecidas aumentaram em mim o desejo da aventura.

Assim, atirei para o saco de viagem uma ou mais camisas e virei costas a Nova Iorque…

Herman Melville, Moby Dick.

Texto para alunos de 7.º ano: A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson.